Não diga nada sobre meus defeitos. Eu não me lembro mais quem me deixou assim.

Pô, cara. Mais uma mancada sua, hein. Caramba, será que você não se toca do quão inconveniente é chegar “chegando” daquele jeito? Ah meu, se liga!

Não estou exagerando, não. Lembra como foi? Você já chegou falando, para pessoas que nunca viu na vida, a respeito de você. Onde mora, como faz pra se sustentar...e pior: sequer perguntou se alguém ali estava interessado em saber a sua origem. Muito narcisista da sua parte chegar se apresentando daquela forma. O que queria com aquilo? Fazer com que todos tivessem algum sentimento em relação a você? Apelativo, chato, desnecessário.

Pior é que, além de chegar dessa forma indiscreta, não titubeou em dizer: estou com fome! Ora, que novidade há nisso? Todos os seres humanos sentem fome. E isso, assim como de onde veio, onde mora e com quem vive, é um problema seu. Compreende?

Mas aí, quando as pessoas que agüentavam há quase cinco minutos a sua retórica nada original e seus péssimos hábitos sociais resolveram, generosamente, atender ao seu apelo, lhe oferecendo o que comer, você deu o golpe final da sua total deselegância e falta de educação “Não gosto de pão de queijo. Me dá uns trocados pra eu pegar um lanche”. Pô, cara. Essa foi demais. Quer dizer então que além de ganhar, você ainda quer escolher? Afinal, você tinha fome de comida ou do dinheiro dos outros? Mancada, velho. Vou te dar um conselho: mude imediatamente.

Não importune quem por sorte do destino ou por tudo aquilo que Calvino disse no século XVI tem mais do que você. Você mora na rua, dorme no chão e não tem família? Vive só, com seus delírios provocados por alucinógenos baratos? Não come na hora certa, passa dias sem nada no estômago e bebe água do chafariz? Saiba: ninguém tem nada a ver com isso. Alguma coisa deu errado na sua vida, mas é a sua vida. E ficar implorando a piedade alheia, não é legal, cara. Seja adulto, saia dessa vida acomodada, vá buscar um trabalho. Se vira! Ou você acha que essas pessoas que abordou estavam ali naquele lugar caro e requintado porque passaram a vida pedindo?

Outra coisa: você estava cheirando mal, com bafo de cachaça e descalço. Pô, cara. Veja só o tamanho da besteira. Tinha alguém ali parecido com você? Não tinha. Evidente: aquele lugar não é para você, percebe? Tivesse segurança na porta, sua presença seria banida por pelo menos 50 metros. E caso cogitasse abordar alguém saindo do carro, era só gritar pela polícia que circula por aquela região muito mais do que nas áreas de perigo. Aí você ia passar pela revista, provavelmente ia levar umas cacetadas nas pernas e ser xingado de vagabundo, bêbado, sujo, enfim...Já imaginou o trauma que isso poderia causar em alguém que presenciasse tal cena?

Percebe como você fez tudo errado? E possivelmente vem fazendo desde quando nasceu. Ah, cara, desiste, vai. Aproveita esse toque que estou te dando e recolha-se no seu canto, volte para debaixo dos viaduto, esconda-se sob as marquises. Se quiser ficar pelas esquinas expondo sua figura lamentável é uma escolha sua. Mas não fique esfregando na cara de todo mundo, dessa forma contundente, todos os seus defeitos. Afinal eles são seus. E ninguém tem nada a ver com isso. Ninguém.

1 comentários:

silvia disse...

Tudo bizarro, mas sabe, fiquei pensando... a gente fala q gosto é q nem cu... q a gente tem direito de não gostar de determinadas coisas... e pq o cidadão não tem direito de não gostar de pão de queijo? Afinal, ninguém tem nada a ver com isso. :p

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