Tchau, Fabi!


 

Eu não a via há quase 7 anos. Mesmo que ela já não viesse à lembrança no meu dia-a-dia, mantinha um lugarzinho escondido na memória. Memória de tempos bons.

Ela começou como estagiária de Física. Logo, tornou-se professora. Em algumas conversas de corredor, nas voltas de ônibus e na observação de seu carinho de mãe, já dava pra perceber que era uma pessoa especial. Mas no trabalho isso se manifestava de maneira mais concreta, pela minha perspectiva de aluna. Aluna sempre ansiosa para entender a matéria, resolver o exercício, passar no vestibular... Mas desesperada, nunca. Porque desespero é ausência de esperança. E eu sabia que ela sempre estaria ali pra me ajudar.

Mas agora ela não está mais.

Já faz tempo que eu não preciso mais dela. Faz tempo que eu esqueci quase tudo o que ela me ensinou. Mas ao perder uma luta contra o câncer, ela volta a me ensinar coisas que, muitas vezes, por negligência ou acomodação, quase não nos preocupamos em aprender. Só porque não existe vestibular pra virar gente grande.

Eu nem sabia que a Fabi estava doente, não acompanhei o combate. Mas ela deixou um blog. Inspirador, pela expressão máxima da vontade de viver e de enfrentar com positividade cada momento difícil dessa batalha. ERA A OPÇÃO QUE ELA TINHA. Lutar, lutar, lutar. E foi até o fim. Intensamente.

E aqui, fico pensando em como eu amava a intensidade da minha inocência. Intensidade que vai se perdendo a cada ano que passa, engolida por problemas, decepções, cansaço, angústias, ilusões. Às vezes, parece que a gente luta pra sobreviver. E ver o registro da luta da Fabi pra VIVER dá a exata dimensão de quanto tempo a gente perde se lamentando, entregando nossa intensidade para o orgulho, para o medo, para a acomodação de ver a vida passar sem correr riscos.

Será mesmo necessária a iminência da morte pra se descobrir o sentido da vida?

Já tinha refletido muito sobre isso depois de uma reportagem com pacientes em fase terminal. Ao perceberem que não levariam quase nada do que tinham construído até então, passaram a valorizar o que valia a pena: as pessoas que assistiram e comemoraram todas as suas conquistas. Sem elas, os sonhos alcançados teriam sido vazios.

Hoje, lá de cima, a Fabi veio me lembrar que não vale a pena esperar. Que é preciso resgatar a inocência da infância agora. E viver o dia de hoje como fosse o último.

Nunca fez tanto sentido a necessidade de amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Porque se você parar pra pensar... Na verdade, não há!


 

Related Posts with Thumbnails

Copyright © 2008 - O quarto "R" - is proudly powered by Blogger
Blogger Template