De gérberas, outono e fraldas geriátricas

Pois é, eu com essa minha mania de sempre dar mais atenção a detalhes irrelevantes do que ao que realmente importa.

Estou feliz esses dias. Desde que voltei da Páscoa. Uma felicidade suave, há que se falar. O motivo: um vaso de gérberas.

Há pouco mais de um mês ganhei um vaso com três lindas gérberas vermelhas, abertas. Foi no dia 13 de março. Era aniversário de namoro (4 anos), uma sexta-feira, e eu tinha estado em um evento do trabalho até as 22h30. Tinha planos de sair pelo menos 3 horas antes disso, mas lembra do comercial do Halls? A vida te provoca. [Ana é linda, Ana é lindinha, mas o que seria dela sem a chapinha?] Cheguei em casa, cansada, meio molhada de chuva e ao abrir a porta vi o braço dele segurando o vaso; tocava um DVD do George na música Gimme Love (gimme love, gimme peace on earth). Aquele dia nem saí, tomei um bom banho e pedimos comida... acho que panquecas.

Durante a semana seguinte, meu esforço foi achar lugar pra esse vaso. Porque flor, tu sabes, é que escolhe o lugar em que prefere ficar. Elas pareciam murchar, não é certo isso! Põe na sacada, põe no balcão da cozinha, põe na lavanderia e só murchando. Uma semana depois, minha mãe veio e indignou-se de não ficarem expostas na sala. “Mas mãe, li na internet que ela gosta de sol. Aí elas vão morrer.” Passaram aquele fim-de-semana de cara pro sol, os dias se seguiram... e morreram. Já Elvis as flores. Fiquei triste (tristinho). Porra. Por que é que nenhuma flor vingou nessa casa nestes 4 anos? Li na internet que elas floresciam no começo do outono (agora)...

----- [com o perdão da digressão]

Ah, falando em outono. Uma cena que marcou nestes dias. Minha avó. Vi ela na Páscoa. Está bem melhor! Que prazer é ver isso. Ela queria fazer xixi na privada, disse a ela que podia ser na fralda.

“Então eu vou fazer. Eu gosto de fazer xixi na fralda. É quentinho.”

Que prazer ouvir isso! Ela está bem melhor.

“Mas eu não queria... não queria ter que fazer na fralda.”

“Vó, tem tanta coisa que eu faço que eu não gostaria...”.

Aquilo serviu de consolo pra ela, que concordou, complacente. E me fez pensar de como a vida sempre vai continuar te provocando.

---- [Mas voltando às gérberas.]

Por um milésimo de segundo, cheguei a pensar em desistir delas. É, deixar morrer. Falar isso me deixa até envergonhada. “Hay que endurecerse, sin perder ia ternura jamás”, não é isso? Que desafio interessante! Reviver gérberas. Todo mundo me disse que são flores chatas, difíceis. Mais interessante. [ressignificando]

Podei as gérberas. Cortei mesmo. O que morreu, ta morto. Vai ser um vaso só com algumas folhagens aparentemente desinteressantes? Vai. Mas pra sempre meu vaso de gérberas. [a gente encontra motivação em cada coisa né?] Ficaram ali, as folhas, e eu continuei regando-as, observando-as e conversando antes de sair e ao voltar do trabalho (mulheres). Antes de ir pra Leme, um recado: “amor, não se esqueça de regar as gérberas”.

No que voltei, a maior surpresa e o motivo da minha felicidade que vim aqui compartilhar com vocês. Temos dois brotinhos de gérberas nascendo! E são lindos! Acho que estão na fase da adolescência, quando ainda estão criando forma e são meio esquisitos. Mas eu continuo amando, cuidando e torcendo pra vingar.

E é isso. Olha que lindos os brotinhos:


















P.S.: negas, não contei? Na Páscoa o Bruno cortou o cabelo! Está tão lindo! Aliás a Páscoa foi deveras boa... além de tudo revi uma grande amiga. E não fiquem com ciúmes. Um beijo pra vocês.

Reducionismo

O Papa foi a Angola fazer...nada de útil.

Pelo contrário.

Foi lá, relembrou que há 500 anos o catolicismo se instalava no país africano, não ressaltou a participação da Igreja no tráfico negreiro, nem a paranóica caça às bruxas (cujo hábito de queimar mulheres vivas persiste no país ainda neste século), mas falou que camisinha é ineficaz na prevenção a AIDS e, ao contrário da idéia geral, ou melhor, global, contribui para que a epidemia aumente (How!?!?)

Isso talvez justifique a quem ainda me censura, por que eu desisti de entender e participar de qualquer grupo religioso.

Não vou elencar aqui os maus hábitos da Igreja Católica por dois motivos: primeiro para não ser injusta com Santo Agostinho e também porque todas a religiões tem ressalvas. A católica, por ser mais velha, erra há mais tempo.

Além de contrariar uma informação cientificamente comprovada, o Papa menosprezou o fato de estar num país onde o número de pessoas com AIDS cresce exponencialmente. Desde o fim da guerra civil há sete anos, as fronteiras reabertas colocaram os angolanos em contato direto com o restante da África – que, segundo a OMS, é disparado o continente com maior número de pessoas infectadas pelo HIV. Basta lembrar que Botsuana, país fronteiriço de Angola, tem metade da população soro positiva.

E é tudo (ou em parte) culpa da camisinha, segundo Bento XVI. (Hoooooooowwwww!?!?!?!?!?!?)

Não há como mensurar o impacto da visita e das declarações para os angolanos. Óbvio, os jornais cobriram o evento, mas não cogitaram ir às ruas conversar com as pessoas a respeito. Porém, ao dizer isso o Papa dificulta ainda mais a relação nada estável do país com a Igreja (o número de Templos Evangélicos prospera talvez na mesma proporção do vírus) e da Igreja com a Anistia Internacional. Ou seja, o prejuízo é, inclusive, político.

Enquanto isso, africanos morrem. De fome, diarréia, tuberculose ou outras doenças decorrentes da imunodeficiência.

Enquanto isso, a Igreja, ao invés de conforto espiritual e ajuda material, leva um discurso. Impraticável, incoerente, ignorante. Apenas, discurso.

Para nós ocidentais fica o recorte de mais uma atitude inconseqüente dessa instituição religiosa. Para os angolanos resta a fé sincera e resistente aos dogmas e preconceitos.
Que Deus os proteja.

Não diga nada sobre meus defeitos. Eu não me lembro mais quem me deixou assim.

Pô, cara. Mais uma mancada sua, hein. Caramba, será que você não se toca do quão inconveniente é chegar “chegando” daquele jeito? Ah meu, se liga!

Não estou exagerando, não. Lembra como foi? Você já chegou falando, para pessoas que nunca viu na vida, a respeito de você. Onde mora, como faz pra se sustentar...e pior: sequer perguntou se alguém ali estava interessado em saber a sua origem. Muito narcisista da sua parte chegar se apresentando daquela forma. O que queria com aquilo? Fazer com que todos tivessem algum sentimento em relação a você? Apelativo, chato, desnecessário.

Pior é que, além de chegar dessa forma indiscreta, não titubeou em dizer: estou com fome! Ora, que novidade há nisso? Todos os seres humanos sentem fome. E isso, assim como de onde veio, onde mora e com quem vive, é um problema seu. Compreende?

Mas aí, quando as pessoas que agüentavam há quase cinco minutos a sua retórica nada original e seus péssimos hábitos sociais resolveram, generosamente, atender ao seu apelo, lhe oferecendo o que comer, você deu o golpe final da sua total deselegância e falta de educação “Não gosto de pão de queijo. Me dá uns trocados pra eu pegar um lanche”. Pô, cara. Essa foi demais. Quer dizer então que além de ganhar, você ainda quer escolher? Afinal, você tinha fome de comida ou do dinheiro dos outros? Mancada, velho. Vou te dar um conselho: mude imediatamente.

Não importune quem por sorte do destino ou por tudo aquilo que Calvino disse no século XVI tem mais do que você. Você mora na rua, dorme no chão e não tem família? Vive só, com seus delírios provocados por alucinógenos baratos? Não come na hora certa, passa dias sem nada no estômago e bebe água do chafariz? Saiba: ninguém tem nada a ver com isso. Alguma coisa deu errado na sua vida, mas é a sua vida. E ficar implorando a piedade alheia, não é legal, cara. Seja adulto, saia dessa vida acomodada, vá buscar um trabalho. Se vira! Ou você acha que essas pessoas que abordou estavam ali naquele lugar caro e requintado porque passaram a vida pedindo?

Outra coisa: você estava cheirando mal, com bafo de cachaça e descalço. Pô, cara. Veja só o tamanho da besteira. Tinha alguém ali parecido com você? Não tinha. Evidente: aquele lugar não é para você, percebe? Tivesse segurança na porta, sua presença seria banida por pelo menos 50 metros. E caso cogitasse abordar alguém saindo do carro, era só gritar pela polícia que circula por aquela região muito mais do que nas áreas de perigo. Aí você ia passar pela revista, provavelmente ia levar umas cacetadas nas pernas e ser xingado de vagabundo, bêbado, sujo, enfim...Já imaginou o trauma que isso poderia causar em alguém que presenciasse tal cena?

Percebe como você fez tudo errado? E possivelmente vem fazendo desde quando nasceu. Ah, cara, desiste, vai. Aproveita esse toque que estou te dando e recolha-se no seu canto, volte para debaixo dos viaduto, esconda-se sob as marquises. Se quiser ficar pelas esquinas expondo sua figura lamentável é uma escolha sua. Mas não fique esfregando na cara de todo mundo, dessa forma contundente, todos os seus defeitos. Afinal eles são seus. E ninguém tem nada a ver com isso. Ninguém.

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