Tenho certeza que ela está aqui

Vocês não fazem idéia da angústia que sinto ao pensar no ofício do escritor.

Meu sonho adolescente era ser escritora. Culpa do Fernando Sabino que embalou minhas primeiras leituras juvenis com seus romances-crônicas envolventes e divertidos. Daí eu me atrevi a começar um livro. A imaginação adolescente não é muito extensa. Por isso a minha trama envolvia uma jovem, um rapaz, um affair, um vilão (que não era vampiro), uma traição e um desfecho com o qual eu planejava surpreender meus leitores. História feita na cabeça, era só pegar caneta e papel - sim, eu ia escrever a mão! - e começar.

Não consegui.

Durante meses eu tentei colocar em palavras a história que eu contaria numa roda de conversa, do começo ao fim, sem gaguejar. Mas as páginas em branco do caderno velho onde comecei esboçar meu romance se tornaram as vilãs da minha carreira de escritora. Quando estava diante delas, angustia e ansiedade me possuiam - e eram abafadas apenas quando a imaginação e o vocabulário conseguiam produzir alguns parágrafos. Foram apenas quatro páginas de muito trabalho braçal.

Faltou inspiração.

A vontade de contar algo criado pela imaginação ou algum fato trazido do fundo da memória tem que ser acompanhada dessa coisa chamada inspiração. Tem definição pra isso no dicionário. Mas para mim inspiração é desejo, é criatividade, é lúdico, é poesia. Tudo junto e misturado no ser do escritor, que por sua vez, tem que estar disposto a perceber que tem isso dentro dele. E efervecer, e inquietar-se, e permitir que se traduza em emoções explodidas em palavras. Fazer isso pode ser um exercício de auto-conhecimento ou exorcismo de si mesmo. De qualquer forma é um processo. E é intenso.

Por isso cada vez que termino de ler um romance, ainda que não seja uma obra tocante, logo penso no quão dificil e, possivelmente, doloroso foi para o autor materializar aquela idéia e imprimir as várias emoções. O prazer da obra pronta é a recompensa. Mas antes dele tem aquele processo...

A minha inspiração vive quieta dentro de mim. Ela se alimenta da coragem e da disposição dos autores que leio para, quem sabe um dia, me expor da mesma forma. É um sonho. E sonhar pode ser essencial à inspiração.

2 comentários:

Júlia Dantas disse...

Dia desses a inspiração quase me veio... mas ela anda teimosa ultimamente!

O quarto erre não vai morrer, nunca! Ele tem que estar aqui pra gente, sempre!

Bom começo de semana curta,

Neguita

Bazófias e Discrepâncias de um certo diverso disse...

É, Fer... não é muito fácil a inspiração... mas ela vem, se a gente ficar esperto com as peculiaridades que o cotidiano nos impõe... mas agora eu tenho certeza que você seria uma ótima cronista, ou romancista! é só investir! bjokas

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