Epifania ou Algo Que Precisava Ser Falado

Várias vezes ouço dizerem: “nossa Julia, sua memória é boa”, mas todas as vezes foi minha memória curta (aquela de coisas que aconteceram há 1 dia, 2 dias, etc). A minha memória longa é, na verdade, deplorável, quase inexistente. Sério: tirando aquelas coisas muito, mas muito marcantes que acontecem na nossa vida, é muito raro eu lembrar dos detalhes do meu passado – tipo minhas brincadeiras favoritas da infância, episódios de Doug Funnie, Chaves or whatever.

Porém, por motivos que algum psicólogo leitor deve saber, as sensações nunca me fogem. Em suma: não sei direito por que, mas Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dogville me mostraram como o ser humano é vil; não sei recitar (sequer lembro os títulos), mas Augusto dos Anjos tem os meus poemas preferidos; e, por argumentos que já tive na ponta da língua, discordo plenamente das revistas masculinas e do endeusamento do Capitão Nascimento. Eu simplesmente sei, entende? E, acredite, não é uma certeza burra. Eu simplesmente confio na minha linha de pensamento, sei lá. Eu não sou idiota, porra.

O que eu quero dizer é que essa coisa das sensações, da sensibilidade (talvez), fazem todo o sentido do mundo pra mim. Muito mais do que argumentos racionais. Do que o empirismo. Do que uma troca de idéias em uma bodega qualquer. [de novo: algum psicólogo??] O problema é que é muito difícil desvendá-las, pra mim. [Acho que mando bem em textos presumidamente didáticos, contanto que tenham um objeto racional. Vai falar de sentimento... aí, desculpa. Tem outras duas nêgas muito mais gabaritadas para tal.]

E sabe o que é interessante? Quando as coisas fazem sentido, é tão bom! É prazeroso, é lindo. Isso pode, sim, acontecer durante uma troca de idéias ou de um momento contemplativo da arte, por exemplo, mas o legal é quando a coisa vem de você mesmo, sabe? Aqueles momentos epifânicos que a gente tem às vezes. Não são fáceis nem freqüentes, são insights que temos ao longo da vida e que, pra mim, norteiam muitas coisas.

Algo – que eu não sei exatamente o quê, só sei – me faz ter certeza absoluta que o sentido das coisas está dentro de nós. Aqueles dilemas gigantes da nossa vida, aquela angústia que corrói... é num momento em que você se distancia um pouco meio que pra olhar a paisagem lá fora [sentir o cheiro de asfalto molhado que vem da rua], quase como se aquilo não existisse... aí é que o sentido vem, que a resposta chega, que você se sente pleno.

Desculpa aí pelo discurso clichê e confuso. É que, cara, quando isso acontece...

4 comentários:

Fernanda Miguel disse...

Quando isso acontece...
a gente sente (e até arrepia) quando lembra do que disse Clarice um dia "não se preocupe em entender. viver ultrapassa qualquer entendimento"
aí sim, definitivamente, "isso" acontece.
(li esse texto vendo vc falar isso pra mim...sensacional)
bjo

Fernanda Miguel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Joh disse...

Tá explicado o porquê de você namorar um cara de exatas, ainda mais um "computólogo"... É o tipo de gente que não costuma viajar muito na batatinha. Senão, você estaria namorando um cara da FAAC (sem preconceitos aqui, viu, só uma constatação!) =)

silvia disse...

Neguita, sabe qual o título do próximo texto da Silvão em trabalho de parto? SENTIDOS.
Mas ele não saía justamente pq eu não conseguia explicar em palavras essas coisas que vc disse aí, e é bem isso mesmo, exatamente isso. Totalmente isso. Eu me encontro em vcs. É para poucos.
Que orgulho!

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