Não sei o que está se passando no Senado. Não faço idéia. Aliás, faço idéia, mas não quero detalhes. Sinceramente, minha vontade é falar um "Foda-se!" bem sonoro cada vez que ouço/leio sobre o assunto.
Passei quatro anos me graduando para ser uma comunicadora social habilitada a trabalhar com jornalismo. O problema é que, antes disso, eu passei minha adolescência toda sonhando em ficar adulta e ganhar aquilo que nunca tive: dinheiro. A incompatibilidade de gênios (e grana) levou ao divórcio com a profissão. Me formei, me separei e antes que tomasse a iniciativa de rasgar o papel que nos unia o STF fez o favor de invalidá-lo. Pois é. Não se pode mais terminar um relacionamento sem intervenções.
Ah, sim! Por que não leio jornais.
Pelos erros de português. Fosse eu acionista de um grande grupo de comunicação venderia todos os meus ativos ainda que mal cotados no pregão. Concordância verbal se aprende no ensino fundamental. E coesão deveria ser algo genético. Assim prevaleceria a teoria darwinista e só os melhores - e mais adaptados - sobreviveriam no mercado de jornalismo. Garanto que teriamos leituras bem mais agradáveis.
Faltam assuntos. Sala de espera de consultório médico costuma render diálogos mais frutíferos do que as páginas dos mais conceituados cadernos da imprensa nacional. Semana passada aprendi sobre autismo com uma pedagoga que aguardava ser atendida na clínica. O papo fluiu e terminamos discutindo sobre a nulidade do Estado diante das questões educacionais. E em momento algum nossas opiniões foram respaldadas por informações tiradas dos jornais. Os de hoje, por exemplo, se resumem a um acidente na Fórmula 1, ao aterrorizante virus da gripe e, claro, Sarney e sua quadrilha, digo, familia. De útil mesmo só os números da loteria federal.
Os mesmos adjetivos aos "sub-grupos" sociais; as opiniões formadas e nunca repensadas dos articulistas; a carência de argumentos nas miseráveis análises da realidade; as manchetes arrogantes de economia; as fotos vazias de conteúdo; a inutilidade anunciada em tempos de farta informação virtual. Por que não leio jornais? Enfim...
Sei que é deselegante criticar o ex, mas nesse caso me dou essa prerrogativa, pois analisei detalhadamente diversas formas de fazer dele, jornalismo, algo melhor. E joguei a toalha. O aspecto financeiro foi apenas a parte prática do nosso rompimento. Na verdade, entre nós faltaram duas coisas: amor e disposição. O amor me manteria fiel a ele, sem pensar em outras profissões mais rentáveis. E a disposição não permitiria que eu me rendesse à mediocridade.(Como se pode ver foi melhor para ambos)
Ontem à tarde liguei na central de relacionamento de um grande jornal para cancelar a oferta de 15 exemplares gratuitos. O solícito atendente me apresentou todas as vantagens da assinatura, me ofereceu uma série de filmes clássicos pela metade do preço e diante das negativas, me perguntou "Mas por que a senhora não quer aproveitar nossa promoção?" E eu, com toda sinceridade que me é possível, respondi: "Porque eu não leio jornais..."
Hoje não recebi o exemplar.
Já sei, já sei... você viu o título e achou que este texto falaria mal das pessoas que passam horas na academia suando e puxando ferro?
Fique atento. As aparências enganam. Além disso, tudo é uma questão de ponto de vista. Pode depender apenas da calçada onde você está.
De lado, um ponto de ônibus. Pessoas chegando da faculdade, cansadas. Algumas gordas, outras flácidas, magras corcundas. A garota fitness olha pra fora e pensa: “Olha lá... estuda tanto que esquece do corpo... o que adianta ser inteligente assim e ser feia”. Empina o bumbum, dá uma olhadela no espelho, gosta do que vê e continua. Mira ao lado, vê uma aluna recém chegada, padrão mulher brasileira... barriguinha saliente, um culotinho aqui, celulite ali. Sente-se superior. Arruma a postura, lança um olhar de “sou veterana, pode babar” e prossegue na exaustiva missão de se posicionar no mercado como “a mais gostosa” – e apenas isso.
Lá de fora, a pseudointelectual pára e observa... “Cenário insano! Bando de alienados! Eu não tenho tempo pra nada, enquanto essas pessoas desperdiçam horas preciosas nesse lugar”. Olha para os livros, gosta do que vê e continua. Dá uma olhadinha para trás, avista uma amiga de sala, sarada, popular, que também acabou de descer do ônibus. “Burrinha, coitada”. Sente-se superior. Ajeita os óculos, deixa o título dos livros à mostra e prossegue na exaustiva missão de se posicionar no mercado como “a mais inteligente” – e apenas isso.
Engraçado. Não à toa os universitários também são chamados de acadêmicos. Academia não significa nada mais do que “lugar onde pessoas incompletas podem se sentir superiores umas às outras”. Porque é impressionante como muitas pessoas de ambas as academias buscam um motivo pra se sentirem um pouco melhores diante de um certo vazio – seja o vazio da insatisfação corporal, seja o vazio da insatisfação mental.
Felizmente, a grande maioria não está interessada em provar nada pra ninguém. São essas pessoas que eu sinto prazer em conhecer, nas duas academias. Justamente por não serem assim previsíveis, são surpreendentes (Perdoem-me a obviedade dispensável do sofisma, mas não achei mesmo outra maneira de expressar isso).
Dia desses, ganhei um amigo colorista. Colorista, o que é isso? Bom, é a profissão de um manipulador de polímeros pigmentares. Químico? Não, mais complicado que isso. Poxa, mais complicado que química? Sim, isso é possível. Legal, aprendi mais uma.
Subi pra aula coletiva, fui obrigada a presenciar um convite de racha. Eu ali, a mulher padrão Brasil com condicionamento físico razoável. Ao meu lado, uma gostosa inconformada passou a fazer seus movimentos observando os meus, tentando provar (não sei pra quem) que conseguia uma elevação de perna mais acentuada. E enquanto eu seguia tranqüila, me esforçando apenas para cumprir a proposta do exercício, a gostosa parecia uma louca destrambelhada tentando levar o joelho no teto. A necessidade de auto-afirmação lhe custou um papel ridículo. Terminada a aula, deixou o local com os peitos estufados sem dizer nada a ninguém. Nem mesmo agradeceu a professora. Só faltou dizer “Meu nome é Zé Pequeno, porra”.
Desci de novo, pra treinar. Afinal, as pessoas vão à academia pra isso. Certo? Nem todas. Algumas têm aproveitado o espaço pra namorar e beijar na boca. Definitivamente, não consigo entender: Sair do aconchego do lar pra dar uns pegas sob pingos de suor, com beijo salgadinho e tudo. Eca! Coisa mais brochante! Ah, e se eu aviso que está incomodando logo vou ser tachada de mal-amada, que se incomoda com a felicidade alheia. Gorda. Bah.
Me deixa aqui, cuidando de mim. Do meu jeito, meio desajeitada, às vezes persistente, ultimamente meio preguiçosa, em busca de consciência corporal, algo que vai muito, muito além de uma bundinha empinada (que também é bem legal). Não me pressione a ser super mulher, tudo de uma vez. Pode chamar de má vontade, mas olhando bem o panorama, percebi que ser a tal mulher moderna do século 21 é uma tremenda sacanagem, e eu estou bem afim de desacelerar. Moro sozinha, trabalho, me sustento, estudo, cuido da casa, faço bico, freela de qualquer coisa, canto em três bandas, cuido das amizades, da família e das redes sociais, administro sozinha a própria vida sem capital de giro e ainda por cima tenho que me manter alta, magra, linda e morena, com os cabelos sempre bem tratados, unhas sempre bem feitas, além de nunca, nunca falar um palavrão porque é feio? Ah, faça-me o favor. À putaqueopariu.