Eu, o escrever e as palavras

Faz tempo que não venho aqui.

Estou tímida, porque escrever parece sempre um exercício de auto-alguma coisa.
Auto-ajuda. Auto-conhecimento. Auto-promoção. Auto-depreciação (ou auto-bullying, para ser mais contemporanea...rs)

Para mim, escrever sempre foi uma forma de me sentir. Qualquer emoção, qualquer mesmo, precisava ser impressa no papel com uma bic. E mais tarde, em caracteres no word.
E o escrever veio de uma relação muito particular que eu sempre tive com as palavras.

Gosto muito delas.

Documentos, tratados, livros, cartas, cartazes. Palavras são registro de momentos que a memória não suportaria guardar, que a fala não ratificaria, que a criatividade não conseguiria materializar. Palavras são, para mim, compreensão.

Em incontáveis situações me compreendi em palavras. Colocá-las numa sequencia lógica e harmonica, rendeu textos que quando li, me fiz entender. Eu sempre escrevi para mim. Pelo menos quando escrevi sobre mim. Um ato egoísta, como se eu quisesse acreditar que as palavras são minhas - e somente minhas - companheiras, minhas parceiras nesse cuidar de existir.

Certa vez fiz um blog. Criei umas crônicas ingênuas, uns textos juvenis e divertidos para entreter. Sim, também gosto de brincar com as palavras. A gente tem essa relação íntima, que só os bons e velhos parceiros tem, onde nos permitimos brincar, rir, chorar, franzir a testa com duvida, suspirar com indignação. Tudo isso ali, no papel com a bic. Ou no word com caracteres.

Palavras estão comigo desde quando as conheci, quando as desenhei tortas e fora da linha nos caderninhos da pré-escola. Crescemos juntas, vivemos horrores e humores. E estamos aqui, novamente, num reencontro.

Escrevo quando estou comigo. Escrevo quando o cotidiano e as pessoas não me sentem e, por desaforo, também os deixo de sentir. Escrevo para tirar o peso, aliviar a dor, sentir o prazer e a alegria de existir. Tudo sempre num delicioso e provocativo diálogo. Eu e as palavras.

Só por hoje... vou me lembrar que sou feliz


 Permitam-me invadir este espaço. Quebrar o protocolo. Este texto não vai ter começo, nem meio, nem fim. Não vai obedecer uma cadeia lógica de pensamentos. Não vai ser compartilhado nas redes sociais. Este texto é um primeiro passo. Que precisa de apoio da mão segura, do sapatinho preso ao pé e do conforto ao tropeçar. Eu só quero dizer como me sinto hoje, nada mais que isso.

 Diferente de ontem e de amanhã, me sinto... zonza. Nunca tomei uma pancada na cabeça, mas imagino que seja uma sensação parecida. Foi como um golpe que veio de lugar nenhum, acredite. Eu juro que não provoquei. Não fiz nada. Não dava pra saber! Tô gostando dessa história. Como é bom não prever as nossas próprias respostas! Como é bom sentir um sabor de desafio. Mesmo sendo tão subjetivo assim, sem métricas, números ou qualquer que seja o produto.

É muito interessante essa coisa do amadurecer. Você tem menos dúvidas, menos incertezas e inseguranças, mas isso acaba te viciando. E pra quebrar esse ciclo, é preciso algo muito poderoso e forte. Na hora que vem, as coisas se esparramam um pouco, mas o universo busca a entropia... e o que estava no lugar certo, volta para lá, só que com raízes mais fortes. E isso é bom, porque assim dá pra suportar um peso ainda maior...

 Desculpem, a intenção não era quebrar a poética desse lugar. Eu só queria dizer como me sinto hoje. Acho mesmo um bom começo. E você, como se sente?

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