Trago memórias de olhares do passado, de quando eu era criança. Olhares de ternura, sem intenções e sem expectativas. Esperavam de mim apenas que eu fosse criança, e nada mais. Em troca, me davam apertão na bochecha, Kinder Ovo, boneca. Levavam-me pra passear, pediam beijinho e eu sempre ganhava um abraço de urso. Faziam gracinhas pra me ver sorrir, só porque risada de criança é gostosa. E depois, me jogavam pro alto, me carregavam no colo e me faziam carinho pra dormir. Parti para a vida adulta com essas referências felizes. Mas ganhei idade pra começar a apanhar. E descobri que viver dói... Até conhecer o amor. Em um piscar de olhos, a esperança renasce. O colo, o passeio, o carinho, tudo acontece de novo. E o olhar de ternura devolve a certeza de que somos incondicionalmente queridos, de que nenhum mal nos acontecerá. Por um instante, o amor basta. Mas ele também cresce, e também faz suas escolhas. Insiste na mania de ser responsável, racional, lógico. E a lógica pressupõe medidas perfeitas. Compatibilidades. Postulados, hipóteses e conclusões. Assim, muitas vezes o amor é desprezado como a resistência do ar. Acontece. Dizem que pra compartilhar a vida é mais importante sincronizar as complicadas personalidades dos adultos do que simplesmente amar. Só que eu não consegui me acostumar com essa ideia. E nem quero tentar. Então, estou indo embora. Aos 25 anos, me refugio no asilo da infância eterna pra redescobrir o amor e para voltar a ser criança. Lá, quando eu sentir vontade de perguntar de novo "por que é que tem que ser assim?", vão me responder: "Porque sim". E finalmente, desprovido de complicações e questionamentos, o amor voltará a fazer sentido e será suficiente para acalmar o coração. Fique à vontade para me visitar quando quiser. E não se esqueça do Kinder Ovo. Beijos sabor chocolate!
Há 14 anos