Normal.
"Amanhã a tarde capaz que chova"
- Normal.
"Já começaram as campanhas eleitorais de 2010..."
- Normal.
"...e as propostas são as mesmas de 2006"
- Normal.
"E você? Como está?"
- Normal.
Dito assim, seco, sem exclamações, reticencias ou reverberação de vogais, normal é como uma tendencia da estação. É o nude. Mais do que isso: normal é um estado de espirito.
Ou uma convenção social. Ou um modo de vida.
(normal way of life...)
Normal padroniza comportamentos.
Usa drogas? Anti-depressivos? É ciumento, possessivo ou egoísta? É tudo isso??
- Normal.
Absolve ausências.
"Não te liguei, mas não esqueci de você..."
- Normal.
Atenua as fraquezas humanas.
"Eu não queria, mas o odeio com todas as minhas forças!"
- Normal.
E no momento que você percebe que quase nada se encaixa, se justifica ou faz sentido; que toda palavra dita lhe soa falsa ou vazia e começa a sentir parte da angústia vivida pela G.H do romance de Lispector, não tenha dúvida que...
Pára!
Isso não é normal.
Se ninguém percebeu é porque esse é um problema exclusivo. Só seu.
E não vá buscar resposta nos especialistas.
(Aliás, morte aos intelectuais...discursos, apenas discursos...)
Porque vai haver um momento que, por algum motivo, você vai se dar conta de que existe. Humano e miserável. E quando esse momento chegar...
Assobie, cante uma música, vá ler um jornal.
Relaxa. Está tudo bem.
Tudo nude.
Normal.
Há 14 anos